quarta-feira, 28 de novembro de 2012

O comum da terra - EUGÉNIO DE ANDRADE


O comum da terra

Nesses dias era sílaba a sílaba que chegavas.
Quem conheça o sul e a sua transparência
também sabe que no verão pelas veredas
da
cal a crispação da sombra caminha devagar.
De
tanta palavra que disseste algumas
se perdiam, outras duram
ainda, são lume
breve arado ceia de pobre roupa remendada.
Habitavas a
terra, o comum da terra, e a paixão
era morada e instrumento de alegria.
Esse eras tu: inclinação da água. Na margem
vento areias mastros lábios, tudo ardia.

EUGÉNIO DE ANDRADE
in: 12 Poemas para Vasco Gonçalves, Porto, 1977



Sem comentários: