terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Começo por invocar Walt Whitman - Pablo Neruda

Começo por invocar Walt Whitman

É por acção de amor ao meu país
que te reclamo, ó necessário irmão,
velho Whitman da cinzenta mão,

para que, com teu apoio extraordinário,
verso a verso, matemos de raiz
Níxon, o presidente sanguinário.

Sobre a terra não há homem feliz,
ninguém trabalha bem no planeta
se em Washington respira o seu nariz.

Pedindo ao velho bardo que me invista,
os meus deveres assumo de poeta
armado do soneto terrorista,

porque devo ditar sem pena alguma
a sentença até agora nunca vista
de fuzilar um criminoso ingente

que apesar das suas viagens para a lua
já matou na terra tanta gente,
que até foge o papel e a pena se alevanta

ao escrever o nome do maldito,
do genocida, o da Casa Branca.




(de Incitamento ao Nixonicídio e louvor da Revolução Chilena,
tradução de Alexandre O’Neill,
Agência Portuguesa de Revistas, 1975
original: Incitación al nixonicidio y alabanza de la revolución chilena, 1973)

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